Comer fora de casa, as práticas e as rotinas alimentares nos contextos da modernidade: uma leitura comparada entre Brasil, Reino Unido e Espanha

02/10/2018 21:15

A tese de Maycon Noremberg  Schubert, orientado por Sergio Schneider, ganhou o Prêmio Capes 2018, na área de Sociologia (PPGS – UFRGS).

Leia a seguir o resumo do trabalho:

A presente tese analisa comparativamente o tema ‘comer fora de casa’ em três países, Brasil, Reino Unido e Espanha, a partir da Teoria das Práticas Sociais e da Sociologia do Comer. O objetivo central desse trabalho é analisar as principais características e as diferenças das práticas sociais em torno do comer, especialmente o comer fora de casa, a partir dos dados e definições conceituais, das rotinas alimentares e dos contextos sociais. No que diz respeito aos dados oficiais de cada país os conceitos operacionais se apresentam de forma distinta, mostrando uma série de limitações para as análises e comparações desse fenômeno social. Ao se averiguar os dados empíricos, percebe-se que do ponto de vista conceitual, a prática do comer fora é então definida como não se configurando somente em uma única situação: quando se come em casa, o próprio menu na companhia do núcleo familiar mais próximo. Todos os outros momentos e situações em que se come há algum grau ou intensidade que corresponde à prática do comer fora. Diante dessa definição é discutida a formação das rotinas alimentares nos três países de forma relacional entre o dentro/fora, o prazer/obrigação e as constâncias/mudanças. Quanto as antinomias dentro/fora e prazer/obrigação, o que se destaca são: o cosmopolitismo britânico, o tradicionalismo espanhol, e uma ‘mescla’ entre o tradicionalismo e o cosmopolitismo no Brasil. No que corresponde as mudanças, a estrutura teleoafetiva das práticas sociais se mostrou diversa entre os países, sendo que os valores normativos que mais se destacaram em torno do comer foram: o ‘poupar’, o ‘cuidar’, o ‘prazer’, o ‘variar’ e o ‘adaptar’, incorrendo em mudanças na prática do comer por bifurcação, coalescência e hibridização. O entendimento compartilhado de que o almoço tem pouca importância para os britânicos e de que os espanhóis acreditam comer bem, por terem uma dieta mediterrânea, são os mais marcantes, refletindo diretamente nas práticas alimentares levadas adiante em cada país. As regras em torno do comer tendem a ser fracamente reguladas, sendo que os dados mostraram que a prática do comer fora apresenta-se cada vez mais informal nos três países, sendo predominantemente realizada em razão da sociabilidade, conveniência e experimentação. Ao se analisar a composição das práticas sociais em torno do comer, notou-se a presença de outras práticas socais ora se relacionando com ao ato de comer de forma co-dependente, ora co-existente. Quando essa relação ocorre de forma co-depende a prática do comer se configura em uma prática ‘composta’, que é ‘ancorada’ por outras práticas sociais, porém, quando essa relação for co-existente, a prática do comer se configura apenas como uma prática integrativa. Essa dinâmica foi percebida como situacional, ou seja, variando de acordo com os contextos sociais e as condicionantes presentes em cada país, bem como perante as dimensões analisadas, em relação aos eventos, os processos de incorporação e os menus. Como contribuição para Teoria das Práticas indica-se analisar os ‘nexus’ que conectam as práticas sociais e os arranjos, moldados pelas condicionantes dos contextos sociais, como a unidade suscetível às mudanças sociais.

Fonte: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/179504