Programa de reabilitação de cientistas

05/09/2016 14:20

James DuBois, psicólogo e professor da Escola de Medicina da Universidade de Washington, tem uma experiência singular na promoção da integridade científica: nos últimos três anos, ofereceu um programa de reabilitação para 39 pesquisadores de 24 diferentes instituições norte-americanas que haviam sido punidos em episódios de má conduta. O treinamento foi criado com recursos dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, principal agência de pesquisa da área médica do país, e recebe várias vezes por ano pequenos grupos de pesquisadores que tiveram financiamento suspenso por cometerem fraude, plágio ou falsificarem dados em trabalhos científicos.

Em artigo publicado na revista Nature, DuBois relatou a experiência do programa e apontou o que considera “mitos” sobre má conduta científica. O primeiro deles é a ideia de que só as“maçãs podres” se envolvem em encrencas. O público do curso, observa DuBois, é composto por pesquisadores talentosos, cujas instituições julgaram que valia a pena investir em sua reabilitação. “Nós não queremos minimizar a gravidade das violações cometidas por nossos participantes, mas elas raramente resultaram de uma intenção consciente de enganar ou quebrar regras”, escreveu DuBois. Ele cita o exemplo de um jovem pesquisador, alçado à liderança de um laboratório, que deixou de revisar dados de um estagiário de pós-doutorado por imaginar que seria um sinal de falta de confiança.

O segundo mito é a ideia de que basta ter talento científico para ser bem-sucedido. Outras habilidades, como liderar equipes, comunicar-se com os pares, ser minucioso e criativo, são igualmente necessárias para prevenir erros e deslizes. Por fim, DuBois contesta a tese de que o pesquisador deve tentar produzir o máximo possível, não deixando escapar nenhuma oportunidade de apresentar projetos e disputar recursos. Ocorre que o excesso de trabalho é uma causa de equívocos e desleixo com regras. “Líderes de pesquisa devem assumir apenas o número de projetos que consigam supervisionar de forma responsável”, afirmou.

De acordo com DuBois, o programa recebeu críticas por gastar dinheiro tentando recuperar pesquisadores flagrados em má conduta. “Os recursos são bem gastos, pois práticas questionáveis de pesquisa estão muito mais disseminadas do que gostaríamos de admitir”, afirma. Nos três dias de treinamento, os pesquisadores se submetem a uma bateria de avaliações, discutem o que fizeram de errado e traçam um plano de desenvolvimento da carreira, que inclui estratégias como realizar reuniões regulares com a equipe, buscar treinamento complementar e reestruturar fluxos de trabalho. Nos três meses seguintes, fazem reuniões por telefone com a equipe de DuBois, nas quais mostram como estão levando as estratégias à prática.

Fonte: Revista Pesquisa FAPESP