Livro desmonta ideia de que alimentação é questão de escolhas individuais
Percebi que havia alguma coisa muito errada com nosso sistema alimentar quando um amigo pediu um suco de uva no bar. A lata estava cheia de letrinhas que eu não entendia, e decidi vasculhar pela origem: Coreia do Sul. “Esse suco vem com pedaços de uva de verdade”, ele se justificou.
Qual era o sentido de um suco que precisava viajar dezenas de milhares de quilômetros? Não era uma questão de ufanismo: é uma questão de que um suco com pedaços de uva pode ser feito em qualquer lugar que tenha uva. No caso, o Brasil.
Aqueles 238 mL condensam simbolicamente muitas discussões. A justificativa central para a abertura de fronteiras era resolver a fome no mundo. No papel, Organização Mundial de Comércio (OMC) e coligados diziam que, sem barreiras comerciais, a comida circularia e resolveria a questão. Ou seja, se o país X tem excedente de uma coisa e falta de outra, basta exportar e importar.
Se os defensores da ideia falavam com sinceridade ou com interesses ocultos, não sabemos. Fato é que o problema da fome não se resolveu. São quase 900 milhões de pessoas, segundo a Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de um sétimo da humanidade.
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