FORMATOS DE INFORMAÇÕES SOBRE OS AÇÚCARES NA ROTULAGEM DE ALIMENTOS INDUSTRIALIZADOS: ESTUDO MULTIMÉTODOS DO CONTEXTO BRASILEIRO

21/05/2021 13:58

Este estudo foi realizado no Programa de Pós-Graduação em Nutrição (PPGN) no âmbito do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (NUPPRE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É resultado da tese de doutorado defendida pela nutricionista Tailane Scapin, em maio de 2021, sob orientação da professora Rossana Pacheco da Costa Proença e coorientação da professora Ana Carolina Fernandes. O estudo ainda foi orientado pelos professores Bruce Neal e Simone Pettigrew do The George Institute for Global Health¸ associado à University of New South Wales em Sidney, Austrália, onde a Tailane realizou estágio de doutorado sanduíche entre agosto de 2019 e março de 2021. O estudo foi apoiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por meio da concessão de bolsas de doutorado à aluna (CAPES Demanda Social e Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior). Foi também apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio de concessão de Bolsa de Produtividade em Pesquisa para a professora orientadora.

A pesquisa teve como objetivo avaliar as informações sobre os açúcares na rotulagem de alimentos industrializados comercializados no Brasil e investigar formatos de rotulagem que sejam compreensíveis e auxiliem consumidores brasileiros nas suas escolhas alimentares. Devido aos efeitos adversos à saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda limitar o consumo de açúcares para menos de 10% das calorias diárias – o que representa 50g para uma dieta padrão de 2.000 kcal. Os açúcares são frequentemente adicionados em alimentos industrializados, tornando esses alimentos uma das principais fontes de consumo de população mundial. No Brasil, a legislação de rotulagem de alimentos em vigor não prevê a declaração quantitativa dos açúcares na informação nutricional dos rótulos, sendo a lista de ingredientes a única forma de identificação da adição de açúcares nos alimentos industrializados. Contudo, os fabricantes de alimentos utilizam diferentes tipos de açúcares em seus produtos, o que dificulta a identificação desses componentes. Neste estudo, quatro etapas foram realizadas investigando questões relacionadas aos açúcares e à rotulagem de alimentos.

Na primeira etapa, por meio do desenvolvimento de um método, foi possível quantificar o conteúdo de açúcares adicionados em 4.805 alimentos disponíveis para a venda no maior supermercado de Florianópolis. Os resultados demonstraram o vasto uso de açúcares nesses

produtos. A segunda etapa envolveu uma revisão de literatura (revisão sistemática com metanálise) para identificar quais formatos de rotulagem de açúcares eram mais facilmente entendidos pelos consumidores e, também, estimularam a escolha de alimentos com menos açúcares. Foi possível constatar que os consumidores têm mais facilidade em entender as informações de açúcares e de escolher alimentos com menor teor de açúcares quando formatos de rotulagem mais interpretativos eram utilizados. Por exemplo, formatos com símbolo de alertas e indicação de “alto em açúcar” foram mais eficazes. A terceira etapa envolveu a realização de grupos de discussão (grupos focais) com estudantes universitários residentes na Grande Florianópolis – SC para buscar as percepções desse público sobre açúcares e rotulagem de alimentos. Os resultados demonstraram desconhecimento dos participantes sobre os tipos de açúcares, os efeitos à saúde, as recomendação de quanto consumir por dia, bem como discutiram que o atual formato de rotulagem de alimentos no Brasil não é considerado útil para auxiliar nas escolhas alimentares quando o assunto é açúcar. Os participantes também sugeriram como eles gostariam que os rótulos apresentassem as informações sobre os açúcares. A última etapa envolveu uma pesquisa online com 1.277 consumidores adultos de diferentes regiões do Brasil. Os participantes viram diferentes formatos de rotulagem de açúcares e responderam a questões. Os resultados demonstraram que os participantes conseguiram, corretamente, identificar produtos com mais ou menos açúcar quando o conteúdo de açúcar era declarado na tabela de informação nutricional. Além disso, participantes que viram símbolos de alertas (como o já mencionado, “alto em açúcar”) escolheram produtos com menos açúcar em uma tarefa de escolha de alimentos.

Com base nesses resultados, o estudo evidencia a vasta adição de açúcares em alimentos industrializados comercializados no Brasil, o que pode contribuir com o excesso no consumo desses açúcares para além do recomendado pela OMS. Além disso, ficou evidente a relevância na declaração do conteúdo de açúcares nos rótulos de alimentos embalado, bem como a interpretação dessa informação para que os consumidores – tal como um símbolo indicando se o conteúdo de açúcar é alto. Isso pode estimular escolhas de alimentos com menor conteúdo de açúcares.

Contatos: Tailane Scapin (tailane.ntr@gmail.com), Ana Carolina Fernandes (ana.fernandes@ufsc.br), Rossana Pacheco da Costa Proença (rossana.costa@ufsc.br).